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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Telúrica

Em que mundo mergulho
Que segredo róseo e rubro
Me revelas
Que só de o saber estremeço
E só de o sentir
Me punge a carne?

O quê nácar de tua gruta contrais
E revela o sumo impróprio
Que como torrente
Rebenta puro
Ao paladar extasiado?

E o olho míngua
E a língua vela e passeia
Sobre a relva orvalhada

Será de teu profundo mundo
E exala esse aroma intenso
Que é rumor imenso
De posse e conquista?

E o corpo inerme
E a epiderme eriçada
Deixam-se submergir
Em tuas vagas

E quem, de lúcido,
Há de impedir essa infusão
Telúrica?

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Paletó



Já não jorra “água”
Nos córregos que dão no rio pinheiros
O governo
De paletó e guarda-chuva
Não sabia de seca

E notaram a estiagem
De vendedores ambulantes
Nos lotados vagões?
O governo
De paletó e formalidades
Não sabia do ganhapão

Já não mais jorram
Manifestações das margens
Às marginais e paulistas
O governo
De paletó e cassetete
Não sabia democracia

E a borracha
Com que abalam os professores?
E os gases de efeito imoral?
O governo
De paletó e projéteis
Não sabia projeto de futuro

E os pobres pretos periféricos,
Policiados, desacatados
Dentro dos próprios barracos?
O governo
De paletó e preconceito
Não sabia de trabalhador

E o incêndio
Espraiando na favela,
Varrendo os sonhos?
O governo
De paletó e especulações
Não sabia do sofrer

E a reintegração
Desintegrando famílias
Levando o que é nosso?
O governo
De paletó e mandato
Não sabia da luta

Mas que governo filho da puta

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Ipê para Paulo



Ipê para Paulo era:
Flor bonita da porra!
Era meu pai
De pouco carinho
E muita piada
Proseador de frases prontas,
marinada na sabedoria do povo.
Ele, bêbado de sorrisos
Tinha histórias calejadas nas mãos,
talhadas no rosto
Histórias de frustrações e felicidades
Ele, adivinhador de chuva
Emprenhador de terra
Face para mil apelidos
“Manga-rosa, coloral, veinho”
Mais conhecido que moeda de um real
Fazedor de amizades
Ignorante de desavenças
Palmeirense VERDE
Quase jogou no Criciúma
não fosse a marvada vida
Na dor sabia o silêncio
Lágrimas sua só na saudade
Fez mil planos
Abandonou mil vezes
Pois o que ele mais queria
 Era ser feliz.