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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Poetas, amigos e amigas
Não esqueçamos do amor
Não esqueçamos da guerra

Não esqueçamos o cheiro aconchegante
Do Corpo quente

Não esqueçamos da batalha da nossa gente

Poetas, amigos e amigas
Não esqueçamos do amor
Não esqueçamos da cor
Continuemos com a ginga

Poetas, amigos e amigas
Não esqueçamos do nego cativo
Do índio morto
Aumentemos a catimba

Amigas, amigos e Poetas
O que vos atiro
Com a ponta da caneta
É minha flor de carinho
É meu calibre na guerra

Poetas, amigos e amigas
Não esqueçamos do amor
Não esqueçamos da gerra

~

...Assim sendo
Quando eu perder completamente minhas raizes
E esquecer, em absoluto, da minha gente,
Quando eu perder o preto no olho
E a melanina pouco da pele,
Quando eu mirar minha mãe
E não sentir o dever da luta,
Ai sim...
Farei silêncio das minhas palavras
E duvidarei da minha existência.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Ausência de Sol

O frio que traz garoa, é meu,
É minha dor que chora
Fora dos meus olhos
Faz engarrafamento
Congestiona
Não circula

O céu chumbo
É minha alma enublada
Luz e sombra
Faz assombro
Relampeja
Faz penumbra

Eu choro nos olhos dela





sexta-feira, 28 de março de 2008

Meu Caminho

Me sou sabido que existo
E me duvido
Me acreditando mais.

Me sou sabido corpo
inda que parco
me acredito capaz

E me puxo do longe

Nos caminhos que me permeiam

Eu me atalho, me sou súbito

Na vida que me permito, eu me espalho,

Sou horizonte de mim mesmo

E me acordo Sol
Pra brilhar na retina do mundo

E me acordo Sol
Pra brilhar na retina do mundo








Fotos: Kátia Portes Leão

www.flickr.com/photos/katiaportes

quinta-feira, 27 de março de 2008

Paisagem

Todas as janelas
São olhos da casa
Que olham a rua

As ruas, todas
São rios de gente
Passando entre as casas

Os automotores
Negociam espaço
E não podem parar

A nuvem, informe
Passeia sombra sobre a terra

O vento se desenrosca
Na alma das árvores

Um “ainda criança”
Bebe uma larga dose de Sol
Vira menino.

Há um grande coágulo azul no céu
Hoje até Deus é nobre

Coletivo

Acordo,
Ainda na asa do sonho
O corpo mecânico
Liga o chuveiro
E é o meu sono que vai pelo ralo.

Já desperto, mas não consciente
Acelero o passo
Num compasso alegro
Meu corpo nem branco, nem negro
Pardo pelas ruas.

O trabalho me espreita
O patrão me espera

O primeiro ônibus rejeita
O segundo acelera
O terceiro passa lotado
Mas no quarto eu entro
Nem que seja apertado

Peço licença
Pra entrar no enlatado
E já na malemolência desconjuntada
Do bi-articulado
Eu rolo a catraca
E é o meu suor que vai pelo ralo

Desfeito no grande embolo
Somos farinha da mesma massa.
Somos um grande coletivo
Aflito com a hora que passa
E com o dinheiro que não regressa.

O engarrafamento
Retarda a pressa
Acelera a impaciência
O correr do tempo
Desenha minha sentença
Na cara-carranca do patrão exaltado
O salário será descontado
Terei que pedir emprestado
Sem saber como pagar
E é minha saúde que vai pelo ralo

Ainda alado
Enlaçado com a imaginação
Desfaço a carranca do patrão
E o coloco ao meu lado
No busão lotado.
Será que ele viraria gente
E esqueceria seu sangue europeu?
Será que seria como eu
Longe de seu papel de presidente?
Mas existe um papel social
Que nos mantém separados
Ele na poltrona dele
E eu no busão amassado
E é meu orgulho que vai pelo ralo.

Chego no ponto
Ainda apressado
Peço licença pra sair do enlatado
Penso em acelerar o passo
E me contenho
Num compasso moderato
Cansado da rotina
Desgarro-me do contrato
Acendo um cigarro
E deixo fluir o passar da hora
Sem arrependimento ou aflição
E é a minha vida que transborda
E vai pro ralo meu patrão.

Mula

Estou triste como uma mula
Tenho uma pessoa que me acarinha,
Me aquece, me adula
Tenho a sina de ser caçula
Vivo toda sorte de agrado
E me encontro triste feito uma mula.

Hoje do meu quadrado o pensamento não pulula
Sou mais peixe que o peixe do aquário
E me auto devoro em minha gula
Se me peço carinho
Minha mão me estrangula
Se grito ao peito
O peito retruca – MULA! MULA! MULA!

Mas essa tristeza não jorra e nem nunca coagula
Vai gotejando co-ti-di-a-na-men-te
(abutre de Prometeu me alfinetando a medula)
Tristeza reta sem fogos
Dor que não varia nem ondula
E imprime a ferro frio no peito
-Sua alma é NULA... NULA... NULA... -

Três pequenos causos

I
O amor é besta
O amor é raro
O amor é siesta
Em almoço caro

II
Minha língua, tua língua
Voam azuis no céu roial

III
Quem formou esse enlace
Com tudo que não pode
Num espaço tão estreito?
Quem falou que é desse jeito
Que se junta dois corpos
E rejunta no mesmo peito?
Se for assim cara amiga minha
É só um jeito que existe
Que vá tu com tua alma
E viva eu, cá na minha, sempre triste.

Passado

Trago em manchas
No tecido de minh’alma
Dores e traumas do passado
As alegrias me são realces de força
Que deixo transparecer
Nos sorrisos que dôo ao mundo

Latrina

Que barulho grita na esquina
E de quatro aos quatro ventos se espalha?

Que marulho transpõem a muralha
Na falácia do povo?

Que murmúrio grita o novo
E no barraco ressoa?

Que burbúrio ecoa... Ecoa...
E torna a bater na quina?

Que América, não norteia, mas atina
E pede mais um passo?

Que grito grita o cansaço
Do braço estarrecido?

Quem fala a fala do peito contido
Na lima de duas línguas?

Quem diz que a noite míngua
Na larga matutina?

Quem late à latina
Como um cachorro vira mundo?

E diz que é tudo meu, tudo nosso, mas que é de todo mundo!

João-de-barro





Te vejo só,
Delido na saudade
És pássaro sem vôo
És pássaro enraigado
Na arvore sem vida.

Adeus João-de-barro
Não quero a felicidade em ti
E nem a tristeza em nós
Serei melhor estando só
- Lhe disse a sua companheira
E num gesto de beleza e morte
Dissolveu-se no limite das retinas.
O pássaro sem asas
Riu da beleza, faleceu com a morte,
Fincou raízes onde nenhuma sorte
O poderia arrancar...
E não mais foi pássaro.